Texto publicado pela atual Vereadora Mara Gabrilli, no Jornal Folha de São Paulo de 01/07/20010, em resposta aos ataques recebidos por ter questionado em seu Twitter: "Você confiaria seus filhos para Dilma de babá?"
Texto publicado pela atual Vereadora Mara Gabrilli, no Jornal Folha de São Paulo de 01/07/20010, em resposta ao ataques recebidos por ter questionado em seu Twitter: "Você confiaria seus filhos para Dilma de babá?"
Mara Gabrilli - Pela pergunta, fui agredida por simpatizantes de Dilma, sem nenhuma compostura: chamaram-me de violenta, mesquinha e preconceituosa
Em jantar com uma amiga, falávamos sobre eleições. Resolvi tuittar: "Você confiaria seus filhos para Dilma de babá?". Achei a questão bem-humorada e passível de ser compartilhada.
Um turbilhão de críticas brotou. Fiquei pasma assistindo às reações mais diversas.Houve desde quem congratulasse até quem me agredisse. Pouco foi divulgado daqueles que simplesmente responderam à pergunta.
Para mim, ficou claro o quanto as pessoas depositam seus próprios preconceitos ao se depararem com uma pergunta que está longe de ter julgamento de valores.
Fui patrulhada por simpatizantes da candidata, sem nenhuma compostura: chamaram-me de preconceituosa, mesquinha e violenta.
Chega a ser até engraçado receber esses atributos, devido à abordagem que tenho da vida.
Onde está o preconceito da pergunta? Curioso que cada pessoa enxerga em um lugar diferente. Uns disseram que a chamei de feia. Outros, que sugeri que, por ter sido guerrilheira, não é boa no trato com os pequenos. Até me acusaram de ter preconceito com babá. Eu já fui babá, além de precisar deste tipo de serviço 24 horas por dia.
Que conspiração criativa foi essa? Eu perguntei o significado que as palavras montaram.
Não falei mal da Dilma, e sim questionei a confiança das pessoas.
Invoquei o imaginário de cada um, como a Dilma humana, sem cargo e sem Lula.
Só isso!
Compararam minha pergunta com outra, feita ao Kassab sobre seu estado civil. A sexualidade da Dilma não me desperta a mínima curiosidade. Além do que, trabalho pela diversidade e isso, para mim, tanto faz.
O Fernando de Barros, da Folha, escreveu que eu quis rejeitar a Dilma contrapondo-a à imagem de "mãe do PAC". Dei até risada, porque nunca pensei nisso e o PAC, para mim, lembra biscoito de polvilho. Aventou a possibilidade de ter sido ação engendrada pelo meu partido, o PSDB.
Nossa! Quanta aversão a uma pergunta, enquanto mensaleiros com dinheiro na cueca não causaram esta indignação.
Dedico a minha vida a melhorar a vida das pessoas. Quem pode subtrair-me o direito de perguntar?
Além do que, confiança é item imprescindível para um voto; essa sensação deveria ser estimulada em disputas políticas, não tolhida.
Precisamos de um bom assunto sobre confiança, então aí vai um.
Certa vez, confiei a sanidade da vida do meu pai ao Lula. Empresário de transportes no ABC, homem doce e afável, foi extorquido durante anos com arma apontada na cara por quadrilha de dirigentes da Prefeitura de Santo André.
Essa história é conhecida, culminou no assassinato do Celso Daniel e serviu de laboratório para o mensalão. Quando as retaliações aumentaram e meu pai foi ficando mais doente, enchi meu coração de esperança e confiança e fui tocar a campainha do Lula.
Ele me atendeu muito bem, prometeu, mas nada fez. Meu pai adoeceu e emudeceu.
Hoje, também precisa de serviços de cuidadores. Quando, raramente, solta um "Oi, filha", choro de alegria.
Sem dúvida, continuarei a estimular perguntas, ainda que incomode a muita gente.
E você, o que te calaria?
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