Carta para você - declaração de amor em tempos modernos.

Marcinha Meira, outro em dia em seu blog http://bolsademulherblog.blogspot.com/ que, diga-se de passagem, está uma delicia de ser lido, pois é nítido que está sendo feito com muito carinho e cuidado,citou o livro: Carta para você - declaração de amor em tempos modernos.

Twitter/@marciameira me contou alguns contos..gosto muito de ler..mas, as vezes, adoro que me contem. Um deles foi de uma mulher que após uma noite de amor, envia e-mails obsessivos sem ter resposta ( me lembrou aquele filme que uma quarentona tecla com um menino de 8 anos, sem saber é claro, e ela pergunta: - vc está se tocando agora? e ele olha para seus dedinhos, o indicador e o do meio, que naquele instante estavam se tocando e responde: - sim. A velha tarada entra em extase).

Bom, em fim..é que lendo um pouco do livro na internet..li essa carta..achei diferente e interessante.

Escrita por Jonathan Lethem. Espero que gostem!

 

Cara T(erra),

Escrevo para pedir que desista. Você pode já ser vencedora,

o tipo de vencedora que vence perdendo, caindo de barriga

para cima e mostrando suas partes moles, deixando-me

coçar, lamber e bufar sobre seus órgãos vitais suplicantes. Talvez

eu deva colocar isto em tom mais convincente: DESISTA.

Você não tem a mínima chance. Resistência é fútil, futilidade

é resistente, relutância é patética, renúncia é liberdade. Amo

você e sou melhor que você em todos os sentidos — sou maior,

mais importante, mais brilhoso, mais glorioso, mais ridículo,

dinâmico, mais rápido nas corridas a pé e na velocidade de

conexão à Internet, mais faminto, mais cheio de sexo e fogo,

mais bem equipado, com inteligência e armamento. Sou mais

alto que você e consigo envolvê-la com minha língua lasciva.

Admita isso e me admita. Ao abrir este envelope, você foi selecionada;

dentre bilhões e trilhões de entidades amébicas, foi

colhida da praia da galáxia como uma concha por um deus.

Algo em você faiscou por um instante (é muito pouco provável

que tenha alguma importância no esquema das coisas); é

um absurdo que o fato de reparar em você tenha de alguma

forma espremido a agenda de alguém como eu. Mas eu me

distraí — não me pergunte por quê, é praticamente aleatório,

como uma loteria. Ainda assim, você nunca será capaz de consumir

a riqueza do meu amor, esgotá-la e desperdiçá-la como a

deplorável ganhadora de loteria que é. Embora tente, nunca a

esgotará, nem em dezenas de vidas perdulárias. Meus olhos

pousaram sobre você em um momento de fraqueza, e você

nunca mais verá outros. Não, sou um monumento, um enigma;

para alguém como você, minha ciência é como mágica.

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Não protele, aja agora, desista. Você foi escolhida por um ser

superior de outra esfera para ser sugada das proximidades da

sua laia para se juntar a mim, sentar-se no trono vazio ao meu

lado (apenas porque antes nunca me preocupei em olhar para

o lado para perceber que ali existia um assento — não, até que

de alguma forma meu olhar caiu sobre você), onde nenhum de

seus companheiros humildemente servis jamais residiu. Você

é indigna, mas se tornará digna pelo reconhecimento do meu

olhar. Torno a dizer, sou superior a você. Você é superficial,

estática, destrambelhada, uma bolha de champanhe que me

subiu à cabeça e estourou; nem sequer sei por que a desejo e

é melhor não me dar a chance de pensar duas vezes. Você vai

descobrir que previ suas reações e anexei-as abaixo (ver anexos,

abaixo). São débeis e ridículas, inúteis e ternas, e você já

murmurou sim se apodere de mim sim como posso resistir sim

me entrego sim. Então, faça agora o que estou dizendo. Você

já o fez, está em meus braços como um bebê, uma pupila, um

cisne. Desista, você já desistiu, você é minha.

Com amor,

M(arte)